
NISSAN KICKS X HONDA HR-V: COMPARATIVO
NISSAN KICKS X HONDA HR-V: COMPARATIVO
Novato estreia custando R$ 10 mil a menos do que rival, líder do segmento. Motor do Nissan é mais fraco, mas 'bebe' pouco e tem desempenho razoável.
Exatos 20 meses e 9 dias depois, a Nissan está lançando o crossover (carro que mistura característica de vários segmentos, como utilitário e sedã) no Brasil.
Mas o estreante, importado do México, chega com uma missão inglória: nesse intervalo, a dupla HR-V / Renegade caiu no gosto do brasileiro e emplacou quase 150 mil unidades.
O Honda possui a maior fatia deste "bolo", e lidera o segmento mais disputado da atualidade. Por isso mesmo, o Kicks mal foi lançado, e o G1 trouxe o SUV para um comparativo com seu rival e conterrâneo japonês.

Canção de uma nota só
O modelo da Nissan começa a ser vendido em 5 de agosto. Por enquanto, o Kicks só vai ser oferecido em uma versão, a topo de linha SL. Ela custa R$ 89.990 e aposta em um bom custo-benefício.
Bem equipada, conta com ar-condicionado digital, acesso e partida sem a necessidade de chave nas mãos, bancos de couro, controles de tração e estabilidade, 6 airbags, central multimídia, sensores de luz e estacionamento, e rodas de liga leve de 17 polegadas.
O Kicks só terá 3 opcionais: pintura metálica por R$ 1,5 mil, bancos de couro marrom ou bege, por R$ 500, e parte do teto pintada na cor laranja, por R$ 2,5 mil.

Se a comparação entre os rivais fosse em faixa de preço, a versão mais próxima do HR-V é a intermediária EX, de R$ 90,6 mil. Porém, ela só conta com os 2 airbags frontais obrigatórios por lei, não tem central multimídia com tela sensível ao toque, nem ar-condicionado digital, e os bancos são forrados com tecido. Pouquíssimo para um carro deste valor. Desta forma, a versão do HR-V a ser considerada no comparativo é a EXL.
A economia, inclusive, não é apenas na hora de comprar. A manutenção até 60 mil km do Kicks é cerca de 25% mais barata do que a do HR-V. Pelas 6 primeiras revisões, a Honda cobra R$ 4.009,98, enquanto a Nissan pede R$ 2.994.

Entre os SUVs compactos mais vendidos, o Kicks é o menos potente. O motor 1.6 16V herdado de March e do Versa passou por uma recalibração na eletrônica, ganhou dutos de admissão maiores e agora desenvolve 114 cavalos, contra 111 cv do hatch e do sedã.
Ainda assim, são 26 cv a menos do que os 140 cv do HR-V, 18 cv a menos do que o Renegade, 8 cv a menos do que o Peugeot 2008 e 1 cv a menos do que Renault Duster e Ford EcoSport, ambos quando equipados com motor 1.6.
Mas executivos da Nissan dizem não se preocupar com uma possível falta de “fôlego”. Eles apostam em uma boa relação peso/potência, já que o Kicks é o que tem menor peso entre todos deste grupo acima.
Com 1.142 kg, ele é até 298 kg mais leve do que o Renegade. Na comparação com o grande rival, HR-V, a diferença é de 134 kg, ou o mesmo que duas pessoas de 67 kg cada.
A Nissan afirma que o Kicks acelera de 0 a 100 km/h em 12 segundos. A Honda não divulga tal informação do HR-V.
A impressão, ao comparar os dois, é que eles se equivalem em desempenho, com ligeira vantagem para o japonês produzido em Sumaré (SP) na comparação com o mexicano vindo de Aguascalientes.
No entanto, nenhum dos dois é um velocista nato ou está disposto a se sujar na lama. O desempenho da dupla é bom para o anda e para da cidade, mas apenas suficiente para retomadas e ultrapassagens.
Se eles se equivalem, andar no Kicks é mais prazeroso. Ele tem suspensão mais bem ajustada, voltada para o conforto, mas sem deixar a carroceria rolar demais em curvas. Aqui, a diferença vai para o controle dinâmico de chassi, responsável por controlar o envio de força para as rodas, podendo frear uma específica se houver perda de tração.


Cada aceleração mais forte do HR-V vem acompanhada de um som metálico do câmbio, além de um aumento exagerado nas rotações – e nos decibéis que os passageiros deverão suportar.
Ponto para o Kicks também no consumo de combustível. Segundo dados do Inmetro, ele deve ser o mais econômico da categoria, com 8,1 km/l de etanol e 11,4 km/l de gasolina na cidade e 9,6 km/l de etanol 13,7 km/l de gasolina na estrada.
Os mesmos números do HR-V são de 7,1 km/l e 10,5 km/l na cidade e 8,5 km/l e 12,1 km/l na estrada, sempre na ordem etanol/gasolina.
Os carros que a Nissan vende no Brasil são marcados pela sobriedade nas cabines. Apesar do acabamento correto, sem falhas de qualidade, o visual quase sempre carece de inspiração.
Com o Kicks, a história é diferente. A cabine é muito bem resolvida, com design moderno, mesclando saídas de ar retangulares no centro com redondas nas extremidades, volante com base reta e boa empunhadura. Há ainda uma elegante faixa central revestida com couro, mesmo artifício utilizado pelo HR-V, mas sem as exóticas saídas de ar triplas.


O ponto negativo fica por conta do painel das portas do Kicks, que extrapola no plástico duro, enquanto o HR-V tem forração de tecido na parte interna das portas. A cabine do Honda, no entanto, tem visual menos ousado.
O quadro de instrumentos, por exemplo, apesar de ter um anel que muda de cor de acordo com a voracidade do pé do motorista no acelerador, tem grafismos simples e um computador de bordo incompatível com um carro de praticamente R$ 100 mil.
O Kicks, por sua vez, lança mão de uma moderna tela de 7 polegadas digital, que pode exibir 12 informações diferentes, entre elas, coordenadas do GPS, estação de rádio e até como está agindo o controle de chassi do veículo.

Quer ter uma boa noção do porte do Kicks? Basta olhar bem para o HR-V. Eles são idênticos em praticamente todas as principais medidas, como nos 4,29 metros de comprimento, 2,61 m de entre-eixos e 1,59 m de altura.
No porta-malas, pequena diferença de 1 litro. São 432 litros no Kicks e 431 litros no HR-V (a Honda afirma que há 6 litros extras em um compartimento abaixo do assoalho, elevando para 437).
Veja na foto abaixo como fica quando um está emparelhado com o outro: o tamanho é tão idêntico que eles se "encaixam".

Coincidência ou não, os dois entregam bom espaço para passageiros e suas bagagens. A posição de dirigir, porém, é distinta. O HR-V se parece com o City, com quem divide plataforma, e onde o motorista vai mais baixo. Já o Kicks tem mais “pegada” de SUV, com posição de dirigir mais elevada.
E vai ter mais versões?
Apesar do bom custo-benefício, o Kicks deve demorar para ter reais condições de ameaçar a liderança do HR-V.
Qualidades para isso, não faltam. O que falta, na verdade, é uma variedade maior de opções para o pequeno crossover estreante.
Quando a gama do Kicks estiver completa, o objetivo da Nissan é emplacar 4 mil unidades por mês do SUV.
Isso faria dele o produto mais popular da montadora japonesa. Mas outras versões só devem chegar no final do ano.
O G1 apurou que o Kicks terá uma versão SV, intermediária e talvez, uma de entrada, que seria chamada de S, assim como nos demais modelos da marca. “Não há previsão de termos versões mais completas do que a SL”, disse Mauricio Aguiar, gerente de produto da Nissan.
Por outro lado, a tabela de preços de R$ 90 mil da versão mais completa deixa margem para que a Nissan possa trabalhar com um modelo mais equipado (faltam itens como controle de velocidade, faróis de LED e teto solar, por exemplo) e até com motor mais potente. “Temos capacidade para adotar um motor maior”, afirmou Hajime Kosaka, engenheiro-chefe de produto da Nissan.
O novato Kicks chega em boas condições de fazer sucesso em uma categoria que tem cada vez mais destaque no mercado brasileiro. Mas há outros candidatos que também apostam na relação custo-benefício para triunfar.
É comum que veículos lançados depois levem vantagem na comparação com seus pares já estabelecidos no mercado. Com o Kicks não é diferente. Neste primeiro confronto com o HR-V, o crossover que será o “carro oficial” da Olimpíada triunfa com certa vantagem.
Isso porque a Nissan soube aproveitar os pontos fracos do SUV da Honda, oferecendo mais conteúdo e cobrando menos por isso.
